terça-feira, 1 de agosto de 2017

O Social em Mescla: Quatro Forças Internas; Três Processos Orientadores




O primeiro post deste blog tem um título um pouco enigmático: "À sombra da diferimitação. À janela da ecranovisão."

É difícil haver erro maior: escrever um título com dois neologismos próprios. Ainda por cima pouco óbvios.

Mas foi propositado. O objetivo deste blog é provocar. Desafiar o leitor a pensar comigo. Levá-lo a discordar comigo.

Mas para que o leitor concorde ou discorde, primeiro tem que entender. Minimamente. E é isso que vou fazer neste segundo post: explicar a minha tese sobre as coisas humanas.

A minha teoria social anda em torno de três pares de conceitos oriundos da colisão e da comunicação social, integrando as quatro forças vitais que influenciam o indivíduo: ou seja, o social e o individual estão engendrados a formar sínteses contingentes em torno dos centros que a seguir irei descrever.

Simplificando, é assim:

O sujeito, individual, nasce com quatro grandes intensidades que lhe são e serão decisivas: poder, desejo, necessidades de aprovação social e crenças. Estas intensidades, forças-mestras, umas mais do que outras, elevam-se para determinar os traços mais efervescentes em cada singularidade individual.

No entanto, à medida que o bebé cresce e se desenvolve, está sujeito às dobras provocadas pelas interações com que se cruza. E logo imita o que gosta; e logo se diferencia do que não gosta. Entra portanto num conjunto complexo de diferimitações, que lhe serão motivadas pelas forças maiores que efervescem no seu interior e que ajudam a teia das diferimitações a sedimentar, a consolidar o seu ser. Eis o primeiro par orientador: diferimitar.

Porém, à medida que o bebé cresce e se desenvolve, encontra no entanto mais regras, mais normas, mais estruturas de orientação e de força. A socialização ataca, pretende tornar o bebé em peça comum, em mais um elo de uma cadeia imensa. Mas eis que ele se rebela, porque a sua singularidade, mais ou menos marcada, mais ou menos pujante, acaba por gerar linhas de ação: as tais quatro forças interiores, constituem portanto a base da individuação, ou pelo menos parte daquilo que mais se destacará. Essa individuação será a resposta aos processos de socialização. Eis o segundo par: sociação: socialização mais individuação. Se a diferimitação como processo forma a síntese entre o que o sujeito imita e diferencia, a sociação sintetiza a socialização imposta pelo fora ao dentro e a individuação agrega o dentro ao fora. Entre extremos resulta: quanto mais tolhido, mais socializado; quanto mais libertino, mais individuado.

No final, um último par de conceitos fecha a espiral sociológica: exprimir e renovar. Por princípio, é sempre em modo circular, mas em forma espiralar. Está sempre em aberta a mudança, tendo no entanto um fundo consistente que parte de um centro e, excepto em sociedades à beira da ruptura, gira em torno desse mesmo com maior ou menos amplitude de mudança: as mais tradicionais, com uma espiral mais disfarçada; as mais modernas com uma espiral mais acentuada. Ou seja, a síntese é consolidada finalmente pela expressão dos sujeitos em conjunto e em ações sociais; e a sua facticiedade provoca automaticamente a renovação das espirais de diferimitação e de sociação anteriormente descritas, propagando-se dentro da elasticidade social existente e contingente.

É esta a tese no seu conjunto: dizer a vida social através da mescla das quatro grandes forças interiores (poder, desejo, necessidades de aprovação e crenças) engendradas nas três grandes dinâmicas sociais (diferir e imitar, socializar e individuar e exprimir e renovar). Nada disto é linear. Nada disto é simples. Nada disto é concreto. Mas é factício: ocorre independentemente da nossa vontade, independentemente da nossa consciência sobre estes processos. Ocorre, simplesmente, e faz aquilo que somos: um ser simultaneamente individual e social em viagem permanente e sem fim à vista, iludido pela ideia de estabilidades duradoiras mas sempre pronto a intervir sobre essas, e a ser condicionado por essas.

O leitor pode agora começar a pensar sobre o assunto. A concordar. E a discordar.

Pode começar por pensar que nasce bebé. De necessidades simples. Mas que tem memória e capacidade de aprendizagem. Tenta e erra. E imita a tentativa bem sucedida; e difere da tentativa mal sucedida. Imita para atingir um resultado; diferencia para atingir outro. A diferenciação a um é a imitação a outro, e vice-versa. É isso o diferimitar. Afasta-se de uma imitação ligando-se a outra. Mesmo sem querer. Quando dá por ela, está enterrado e com dificuldade de sair dessa teia que o agarrou ao virar...

Mas os fios que unem essa teia são os das sociações que vai fazendo: socialização com fortes correntes de regras, ideias e normas de conduta. Se não gosta, volta a diferimitar. E traz o Self consigo, introduz a sua individuação nas forças que o afrontam ou provocam. E se não gostar da sensação final, até a si mesmo voltará a diferimitar. A individuação inicia como revolta face à socialização, mas é também alvo de ajustes internos. No final, a síntese final e suas respostas consolidam a espiral e permitem a continuação do movimento...

Tudo isto é fácil de compreender. O mais difícil mesmo é ser.


 


 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

À Sombra da Diferimitação. À Janela da Ecranovisão



Diferimitar. Ato de diferir, imitando. Ato de imitar, diferindo.
Viver é diferimitar. Porque: ora se difere, ora se imita.
Experimentar é simultaneamente imitar diferindo e diferir imitando. Viver é experimentar. Diferimitar é viver.

E assim é a vida: à sombra da diferimitação, respiramos; hoje, como nunca, diante da grande janela de ecrãs. Em cada ecrã, uma visão. Em cada visão, um ecrã. Diferimos de uma visão à luz de um ecrã. Diferimos de um ecrã à luz de uma visão. Imitamos uma visão à luz de um ecrã. Imitamos um ecrã à luz de uma visão. Experimentamos todas as hipóteses e eis-nos, lá ao fundo, na penumbra. A surgir. Mora nos detalhes a vida, em forma de diferença; surge na aparência a sua forma, em jeito de imitação. Mescla: tudo junto, de modo peculiar, a coisa faz-se um.

O que procuramos exatamente?
Nem mais: viver à sombra da diferimitação.

Como pensamos a vida hoje?
Nem mais: à janela de uma ecranovisão.

Que forças moram misteriosamente aqui, nesta vida à sombra da diferimitação que espreita à janela da ecranovisão?
Todas as quatro. Poder. Desejo. Crença. Necessidade individual de aprovação social.

Amanhã, uma a uma, a escorrer pelos dedos, sairá a correr e a gritar pela vida.  

O Social em Mescla: Quatro Forças Internas; Três Processos Orientadores

O primeiro post deste blog tem um título um pouco enigmático: "À sombra da diferimitação. À janela da ecranovisão." É difíc...